Reportagem Snarky Puppy em Lisboa
Snarky Puppy em Lisboa: a “banda pop que improvisa muito” a confirmar a legião de fãs em Portugal.
É assim que descreve Michael League, líder e fundador da banda norte-americana enquadrada no top da cena jazz dos últimos 10 anos: “Somos uma banda pop que improvisa muito, mas sem vozes.” Definir o género musical dos Snarky Puppy torna-se por vezes complicado, mas é talvez isso que os torna num dos grupos musicais mais geniais dos últimos tempos conseguindo mesmo assim um resultado distinto e único. Bebendo muito do jazz mas também de várias influências musicais do globo inteiro pelas experiências dos músicos que fazem parte deste projeto, os Snarky Puppy estão neste momento em tour mundial, onde depois de uma noite vibrante na Casa da Música, no Porto, regressam um ano depois, a 27 de abril, a Lisboa desta vez para o palco do LX Factory para uma casa cheia que se mostrou conhecedora do leque musical maioritariamente instrumental de Snarky Puppy, sem contar com as dezenas de colaborações com artistas do mundo inteiro, incluindo vocalistas.
É quinta-feira à noite em Alcântara e o público já se mostra eufórico e curioso para ouvir aquela que foi a primeira parte do concerto, anunciada por Michael League pela presença de Lucy Woodward, vocalista presente no reportório de um dos álbuns mais conceituados de Snarky Puppy: Family Dinner Vol.1. “Too Hot to Last”, rapidamente capta a atenção do público para cerca de 2h de uma experiência musical única, num ritmo pausado mas vibrante pelo timbre de Lucy, que se mostra feliz por ter vindo a Portugal pela primeira vez e estar a adorar, referindo a noite anterior na Casa da Música e o público cheio de energia que esperou pelo concerto no LX Factory. Ainda nesta abertura houve tempo para cantar em coro os parabéns ao guitarrista Chris Mcqueen.
A banda tocou por cerca de 20 minutos e abandona o palco para que seja preparado o set up daquilo que todos esperavam: o único e melódico reportório dos Snarky Puppy, onde a genialidade musical do projeto torna os temas exclusivamente instrumentais conhecidos e facilmente identificáveis como marca distinta do grupo. Pelas 22h15 regressam ao palco com “Beep Box”, característico pelos sons do sintetizador, abrindo o apetite a uma noite de performances únicas bem marcadas pelo ritmo do baterista canadiano Larnell Lewis. “GO”, “Palermo” e “Tarova” são alguns dos sons do novo álbum “Culcha Vulcha” que o grupo composto por 9 músicos em palco trouxe a Lisboa, “We’re gonna play something a little mellow..” – dizia Michael League que, cativado pela energia do LX Factory, acrescentou – “Actually… Fuck that!” – Mostrando aquilo que pareceu ser uma mudança da set list em pleno palco para os temas mais vibrantes que a energia do público pedia, mostrando que a banda percorre o mundo preparada para tocar qualquer coisa.
De fantásticos momentos a solo pelos saxofones tenor até a um dueto marcadíssimo em BPM’s entre o baterista Larnell Lewis e o percussionista Marcelo Woloski, Snarky não nos parou de surpreender e cativar um público que trauteava as músicas já nos primeiros segundos de cada uma, mostrando o quão bem conheciam as melodias. Um toque de pandeireta assinala o já antecipado começo de “Tio Macaco”, mostrando um dos momentos mais altos da noite. Com ênfase nos temas do novo álbum, foi tempo de voltar a introduzir o guitarrista aniversariante da noite para o tema “Big Ugly”, seguindo com o clássico trauteado em coro “Shofuqan” que se antecedeu da saída da banda do palco.
Um regresso em força aconteceu com o encore de “What about me” do álbum de 2014 “We Like it Here”. Michael League, líder da banda teve ainda tempo durante o concerto de fazer um apelo àqueles que lutam por um lugar na música – referindo que foi outrora uma posição que os Snarky Puppy ocuparam, embora neste momento possam se sentir muito sortudos por conseguirem fazer da música sua vida numa época onde o streaming ocupa muito desta indústria. “Buy their records and tickets to concerts” – disse Michael apelando a duas formas de dar valor a novos músicos, agradecendo mais uma vez ao público que encheu o LX Factory, em nostalgia ao concerto de 2016 e referindo que durante cerca de 3 anos fizeram tour pela Europa sem nunca passar por Portugal.
O que é facto é que a legião de fãs se confirmou, e é garantido que os Snarky Puppy voltem a Portugal, e quiçá façam colaborações com artistas portugueses. Até porque durante esta pausa para um pequeno discurso Michael referiu ainda proximidade com a artista Gisela João e mostrou ser conhecedor de que o Fado é uma marca de Lisboa e Portugal. Venceram 3 Grammys nos últimos anos e têm 11 álbuns em 13 anos de vida com diversas colaborações musicais.
Por agora, ao público português resta dizer: “Até breve, Michael League e amigos!” – não fosse esta união e uniformidade em palco um dos fatores que torna os Snarky Puppy num dos maiores sucessos da última década.
- domingo, 30 abril 2017